-
Como fora a viagem Vicente?- o saudava Mercedes.
-
Correu tudo em ordem santa, e as coisas com a preta?
- Ah
– uma vibração sondou-lhe o ventre -...estamos nos dando muito bem agora...-
Mercedes deita o olhar ao assoalho.
- Ah
minha pétala aveludada, chegue cá! – Vicente aproxima-se de sua esposa e se põe
a beijá-la e fazer-lhe carícias.
Após
um primeiro instante Mercedesse enoja, e após sentir o gosto de seu homem, cede
aos seus verdadeiros desejos, rompe o beijo e diz:
-
Perdão, estou mui cansada, irei deitar-me...
Vicente,
desanimado e com baixo vigor, pede para que o menino escravo volte, sele o
cavalo, pois o homem iria caçar garças.
Mercedes,
desesperada por uma força surreal, procura Antônia apressada, porém não a acha,
a casa estava vazia.Em um ato veloz vaipara fora da casa e em gênese de gritar
a escrava, Mercedes a vê de longe, colhendo limões em meio às folhagens.
A
escrava, desapercebida em meio ao trabalho, cortava galhos do limoeiro com o
seu punhal e logo após recolhia os frutos, apenas se deu conta do abraço,
quando o recebeu de sua dona, que a leva a se esconder entre os recantos verdes e sublimes. Aquele beijo ardente era o
palco da brisa suave e doce de toda aquela natureza. O cesto de limões caíra ao
chão. Mercedes afogava seus lábios no pescoço escuro da mulher, sentindo o seu
cheiro de frutos e café. Ambas estavam vivendo, naquele momento, uma era de
idílios e astros. Seus ouvidos estavam recobertos de gozo e uma serenidade tão
natural, que as faziam se sentir frutos da criação. Essa paz se fez finita
quando, ao desencostar o corpo de Mercedes, Antônia caíra sobre o solo escuro,
que começava a inundar-se com o líquido escarlate do corpo da negra.
Mercedes,
ao voltar de seu frenesi num salto até a negra, se deita sobre essa, derramando
o seu estado de choque em suas pálpebras negras e úmidas.
Ao
levantar-se, perdendo as forças pelo corpo, depara-se com Vicente, segurando
sua espingarda, rente aos seus olhos de fúria, que agora fitavam a esposa com
desprezo.
Mercedes,
abandonando sua razão depois de pensar em seu destino, apanha o punhal de
Antônia, enfia-o na garganta, rompendo-lhe em sangue ao cair pesada ao chão
sobre o corpo da negra.
O
limão na grama, já começara a sofrer pela natureza.